Três Perguntas a María Bastidas, coordenadora do programa territorial +Solo+Vida, promovido pela Associação de Defesa do Património de Mértola (ADPM)
A propósito do recente seminário final sobre o programa territorial +Solo+Vida, promovido pela Associação de Defesa do Património de Mértola (ADPM), o “Diário do Alentejo” conversou com a sua coordenadora, María Bastidas, sobre quais os principais objetivos do projeto, que resultados foram obtidos, que avaliação de participação, por parte dos agricultores, é feita e que continuidade existirá daqui adiante.
Texto | Nélia Pedrosa
Quais são os principais resultados do Programa +Solo+Vida apresentados no decorrer do seminário final que teve lugar em Mértola? Sendo o Parque Natural do Vale do Guadiana (PNVG) um território com reconhecidos valores de conservação e altamente vulnerável às alterações climáticas, a promoção de uma maior resiliência adquire um carácter de urgência. Em resposta a este desafio, o +Solo+Vida, promovido pela ADPM, em parceria com a Cooperativa Agrícola do Guadiana, NBI, U. do Algarve e IDN, financiado pelo programa EEA Grants, implementou 10 boas práticas em 94 hectares do parque. No entanto, a parceria, ciente de que a necessidade de divulgação técnica das práticas é um dos fatores de promoção da adoção de novos comportamentos, apresentou os resultados da avaliação económica e em termos de serviços de ecossistemas das práticas, duas fontes complementares de remuneração do agricultor que aplica práticas agrosilvopastoris que produzem alimentos de qualidade e ao mesmo tempo conserva os valores ambientais do PNVG e presta serviços ambientais à sociedade.
Que soluções são apontadas para a “perda de produtividade das explorações agrosilvopecuárias, com enfoque na mitigação e adaptação às alterações climáticas”, um dos principais objetivos do programa? Alguns dos números que, até à data, evidenciam o esforço pela implementação demonstrativa das 10 boas práticas nas 17 explorações silvoagropecuárias aderentes ao projeto são: 433 plantas utilizadas na recuperação de galerias ripícolas, 16,7 hectares de pastagens permanentes semeadas, 12 hectares de área desmatada sem mobilização de solo para proteção do mosaico mediterrânico, 220 protetores colocados para proteção da regeneração natural à herbivoria, quatro bosquetes instalados como promotores de banco de sementes, 18 plataformas flutuantes de plantas depuradoras instaladas em pequenas barragens, 610 espécies de árvores e arbustos plantados em bosquetes biodiversos e dois hectares intervencionados para restauro de linhas de água. Estas práticas, testadas anteriormente pela ADPM em diversos pontos da Península Ibérica, permitem incrementar a captação da água e a manutenção da sua qualidade, promover a compatibilização da atividade agropecuária com a conservação de um coberto arbóreo saudável e a diversidade florística promotora da fauna auxiliar, assim como a conservação do recurso solo.
Como avaliam a participação dos agricultores que aderiram a este projeto-piloto? E de que forma esse trabalho terá continuidade? Aderiram ao programa 17 explorações inseridas no parque, dos concelhos de Mértola e Serpa. Através das cinco ações de capacitação, realizadas no âmbito do desenvolvimento de um modelo de governança que incentiva a estreita colaboração entre os atores com influência no território, foi possível facilitar e impulsionar a aplicação das referidas práticas com a participação de 120 agricultores e técnicos. Após dois anos e meio o projeto conclui, no entanto, a ADPM dá continuidade a esta iniciativa de promoção da adaptação às alterações climáticas nas explorações pecuária extensiva através de um novo projeto, o CI MontadoDehesa, financiado pelo programa Poctep, no qual o PNVG voltará a ser uma área piloto.